sexta-feira, 2 de maio de 2014

Entrevista Juliano Carraro

Pessoal!!!
Com enorme prazer que trago a vocês Juliano Carraro! Diretor Comercial da empresa Lídio de Carraro que é a nossa VINÍCOLA DA COPA DO MUNDO!!! Uma grande vinícola que possui diversos prêmios e nos traz vinhos de qualidade que mostram o potencial do Brasil perante o Mundo. Muito obrigado pela entrevista Juliano!!! Confira esse papo descontraído:


A Lidio Carraro é pioneira no país a implantar uma gestão vitícola e enológica integradas e sustentáveis, que inicia com um meticuloso estudo de clones, mapeamento de solos, rigoroso controle de produção, até o recebimento da uva por gravidade e vinificação de grandes vinhos sem o uso tradicional da madeira. A atenção em cada detalhe do processo de elaboração permite originar vinhos particulares, ricos em complexidade, estrutura e equilíbrio.



Entrevista Juliano Carraro






1. Juliano, como começou essa sua paixão pelos vinhos e o que levou a você fazer o curso de enologia? 


Juliano: Sempre estive envolvido com as atividades de minha família, desde a produção das uvas até a entrega delas às vinícolas que fornecíamos. Toda esta magia que encanta as pessoas que aproximam-se do mundo dos vinhos fazia parte do meu quotidiano. 

Mais tarde, quando cursava Eng. de Alimentos, fui realizar um estágio em uma vinícola. A partir dali, despertei a vontade de aprofundar conhecimento na enologia para poder ir além da atividade de produtor de uvas que sempre esteve presente na história da minha família. 



2. A família Carraro preza pelo conceito Purista e alta qualidade nos seus vinhos. Gostaria de saber, por que vocês optaram por fazerem seus vinhos (mesmo os de guarda) sem a passagem por barricas de carvalho? E qual o impacto disso no envelhecimento do vinho? 


Juliano: Optamos por este conceito, que envolve muito mais do que a ausência do carvalho nos vinhos, pois acreditamos no potencial de nosso Terroir e por querermos mostrar que os vinhos devem comunicar sua verdadeira identidade. Através deste conceito, criamos um novo estilo, uma experiência ímpar ao consumidor. Nossos vinhos apresentam a verdade, são vinhos vivos. O fato de elaborarmos vinhos de guarda sem a madeira não deveria ser nenhum espanto, pois nunca foi a madeira que deu longevidade a algum vinho, mas sim seu conjunto de polifenóis, acidez, minerais e álcool, o que nossos vinhos de maior concentração tem em abundância, pois são elaborados com uvas produzidas em pequena quantidade por planta e colhidas no momento certo de sua maturação.

O envelhecimento de nossos vinhos em geral apresenta grande potencial de guarda, aliado ao desenvolvimento de riqueza aromática e taninos finos, maduros e extremamente agradáveis, pois são somente os taninos provenientes da uva. Em geral são vinhos de grande potencial gastronômico, pois o equilíbrio é natural e obtido exclusivamente através do cuidadoso processo de vinificação em que cada parcela de uvas é submetida.




3. Juliano, quais são os principais desafios de ser o Diretor Comercial da vinícola Lídio de Carraro?


Juliano: O principal desafio é construir do zero uma estrutura comercial, principalmente estando em um país com inúmeros entraves tributários e logísticos, além da dificuldade de encontrar profissionais capacitados para trabalhar nesta área. A venda de vinhos não é como qualquer outro comércio, pois tem muitas particularidades técnicas envolvidas. De qualquer forma, é um desafio positivo, pois temos muito campo para percorrer, nunca chegaremos a uma zona de conforto, pois o mercado é muito grande e carente.


4. Como você enxerga o mercado brasileiro de vinhos tintos tendo em vista a grande concorrência com os vinhos argentinos e chilenos que muitas vezes acabam chegando ao consumidor com um preço mais atraente do que o próprio vinho brasileiro? 


Juliano: Nosso mercado para os vinhos tintos é, assim como na maioria dos países do mundo, a maior fatia do mercado de vinhos tintos é naturalmente onde existirá o maior número de concorrentes. A idéia de que chilenos e argentinos são superiores se comparados a vinhos brasileiros de mesmo valor já não é uma realidade confiável. Frequentemente vinhos de marcas famosas chilenas e argentinas são avaliados com vinhos brasileiros e praticamente sempre nossos vinhos estão superiores. A nova realidade cambial forçou um reposicionamento de preços dos importados ou a importação de vinhos inferiores para continuar fornecendo aos mesmos preços e isso fez despencar a qualidade dos vinhos que entram em nosso país. 

Na Lidio Carraro buscamos confrontar nossos vinhos com vinhos importados de valores pelo menos 20 a 30% acima dos nossos e mesmo assim mostram-se extremamente competitivos. Tanto que isso é verdade, que nossas exportações para países tradicionais consumidores, como a maioria dos países europeus, representam em torno de 75% de nossas vendas externas, sendo que a exportação representa 35% de nossa produção total.


5. O Brasil tem se destacado no mercado de vinhos espumantes produzindo ótimos espumantes a preços acessíveis, dado que a serra gaúcha tem um terroir bem semelhante a região de Champagne na França. O que faz a Vinícola Lídio de Carraro direcionar sua produção para vinhos tintos ao invés de explorar mais a fabricação de espumantes? 


Juliano: Justamente porque a Serra Gaúcha tem uma maior vocação para vinhos espumantes, a Lidio Carraro tem um projeto para expansão de vinhedos e desenvolvimento de nossa linha de espumantes que hoje contempla somente a linha Dádivas. Em nosso portfólio predominam vinhos tintos, pois nossa maior área de vinhedos está na Serra do Sudeste, nas Terras de Encruzilhada do Sul, sem dúvida uma região de grande vocação para elaboração de vinhos tintos e brancos de alta gama, que é o foco da Lidio Carraro. Estamos em um país com dimensões continentais e somente no Rio Grande do Sul temos mais de 5 macro-regiões com características distintas e consequentemente com diferentes vocações para variadas tipologias, variedades e estilos de vinhos. 


6. Juliano, conte-nos um pouco como ocorreram as negociações com a FIFA visando a produção do vinho da Copa e como a vinícola Lídio de Carraro se preparou para a produção desse vinho. 


Juliano: Nosso contato com a FIFA ocorreu em 2011, durante a Soccerex, no Rio de Janeiro, onde diversas outras empresas brasileiras também estavam presentes. Daí por diante seguimos as solicitações da FIFA, enviando amostras de todos nossos vinhos para Zurich, apresentando um business plan de qual seria nosso projeto caso fossemos a empresa escolhida, referências de pontuações nacionais e internacionais, onde os vinhos da marca estavam presentes nacional e internacionalmente, além das experiências anteriores com eventos esportivos. Após mais de um ano deste processo, a FIFA nos anunciou como a empresa escolhida para a missão de elaborar o vinho licenciado oficial da Copa do Mundo 2014. 


7. Juliano, nos fale um pouco mais sobre o vinho da Copa do Mundo, suas características e curiosidades. FACES, por que esse nome? 


Juliano: O Vinho da Copa do Mundo nos remete a idéia de um vinho festivo, alegre e agradável, por isso associamos à marca Faces ou "Faces" com pronúncia internacional, que tem como conceito a valorização da diversidade. Vinho Faces: a minha, a tua, a nossa face! A cor, os aromas e os sabores do Brasil, a sua terra e a sua gente traduzidos no vinho! Um ‘time de uvas’ em perfeita harmonia, provenientes de distintos Terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade  do país verde amarelo. 

Monica Rossetti, enóloga da Lidio Carraro, teve a missão de criar o projeto técnico alinhado com o conceito desta linha e ainda relacionar tudo isso ao futebol, assim como com a brasilidade e seus atributos. O processo iniciou-se com o delineamento de um estilo enológico desejado para inspirar o início do trabalho. As principais características buscadas foram: um vinho autêntico, vibrante e versátil, com um grande grau de identificação com o Brasil, tanto pelo estilo do vinho quanto pelo conceito de criação. O objetivo foi transformar o FACES em uma resposta às exigências mundiais de consumo de um vinho com identidade própria e, além disto, superar as expectativas pela ótima relação custo/benefício.


8 - Juliano, vocês lançaram o vinho da Copa do Mundo. O tinto, branco e rosé. Por que não fizeram o espumante para podermos brindar o hexa? 


Juliano: Estamos elaborando as três versões, branco, rosé e tinto, vinhos que cabem muito bem em ambientes comemorativos, mesmo para brindar o hexa! Claro que queríamos elaborar também o espumante Faces, porém estes serão lançados posteriormente a Copa e sem a logo marca da FIFA, pois quando a FIFA iniciou o processo de seleção no Brasil ela já estava com uma parceria praticamente concretizada com um produtor de champagne e esta parceria impediu de termos um outro espumante oficial.


9. Você é enólogo e é casado com a Monica Rossetti que é a enóloga-chefe da vinícola. Como fica a escolha da composição dos vinhos e do próprio jeito como o vinho é feito? E havendo divergência de opinião entre vocês, que é que toma a decisão, você ou ela?


Juliano: Sim, sou enólogo, além disso meu irão Giovanni também é enólogo, porém meu foco e responsabilidade na Lidio Carraro é a estruturação comercial e a Monica é a diretora técnica da vinícola. É claro que compartilhamos sobre os cortes, novas criações, avaliações de safras e outras definições, porém cada um com seu foco e responsabilidades bem definidos. Buscamos sempre um consenso entre o grupo e caso exista alguma divergência, esta é considerada e avaliada, pois todas as escolhas devem respeitar os princípios da empresa e seu foco pela excelência. 


10. Juliano, vi que você participa de várias feiras e exposições de vinhos, sempre levando ao público o melhor dos vinhos da vinícola. Como é a sensação de estar cara a com o consumidor? Isso ajuda nas tomadas de decisão como Diretor Comercial da vinícola? 


Juliano: Sim, além de ajudar nas tomadas de decisões, nos faz perceber que estamos no caminho certo, pois cada vez agregamos um número maior de admiradores da marca e dos nossos vinhos. Este contato com o consumidor é estimulante, pois recebemos o retorno real de suas impressões. Além disso, estes são os principais momentos em que podemos proporcionar a oportunidade de confronto entre nossos vinhos e vinhos de outras origens ou marcas, dando ao cliente a liberdade de escolha. 


11. Para terminar a entrevista, gostaria de saber de você como produtor de vinhos. O Governo Brasileiro deixa a desejar no incentivo a essa área? O que você acha que poderia ser feito para que o vinho brasileiro se torne mais competitivo no seu próprio mercado interno?


Juliano: Incentivo? No setor de vinhos não sabemos o que isso significa…nosso governo não somente deixa a desejar como também atrapalha nosso desenvolvimento.

Inicialmente a retirada de incentivos relativos aos vinhos argentinos e chilenos já tornaria mais justa a relação com vinhos de todas as outras origens. Outra medida seria a retirada da substituição tributária, pois é uma vergonha um setor tão pequeno e explorado, servir de financiador dos cofres da receita federal. Estamos antecipando o imposto de uma mercadoria que ainda nem foi vendida, isso é um absurdo! 

Estas são medidas de uma economia desgovernada, que apela, buscando no que resta da indústria brasileira, recursos para financiar todos os desperdícios financeiros que vemos todos os dias acontecerem em nosso país. Redução de IPI, enquadramento como alimento buscando redução de ICMS, todas estas medidas seriam válidas para podermos estimular o consumo. 

A redução de preços, resultante da diminuição de impostos, estimularia o crescimento de consumo. Bastaria que nossos governantes raciocinassem para concluírem que mesmo com a redução tributária, no final das contas eles ganhariam mais, pois aumentando o consumo, toda a cadeia de produção aumenta e a geração de impostos no final seria maior.