terça-feira, 10 de março de 2015

Queridos Confrades!
Qual a Diferença entre Corte, Assemblagem, Blend ou Varietal?

É com essa pergunta que iniciamos o post de hoje. Se você é um enófilo, um amante do vinho, já deve ter se deparado com essas expressões que são muito comuns nos contra-rótulos, fichas técnicas e em todo mundo do vinho. Que tal aprender o que significa cada uma delas e tirar sua dúvida de vez? Confira:

Qual a Diferença entre Corte, Assemblagem, Blend ou Varietal?



Varietal: 

Por definição: Um vinho varietal ou monovarietal é aquele produzido com uma única variedade de uva ou um vinho com uma uva predominante em sua elaboração. Os vinhos considerados varietais são aqueles que recebem o nome de apenas uma variedade de uva.

Vamos ao exemplo: quando você está em uma adega escolhendo um rótulo e se depara com um Merlot escrito na frente do rótulo. Ou ainda um Cabernet Sauvignon. Ou um Chardonnay. Esse é um varietal!

Como curiosidade: Quem teve a ideia de fazer um varietal? Nos anos 60, a produção de vinhos varietais foi uma estratégia de marketing dos americanos. Eles queriam ser competitivos no mercado onde quem dominava eram os europeus. Os europeus nomeavam seus vinhos apenas a partir da respectiva região (o conceito "vendido" na época era de terroir). Por exemplo, na França, fazia o Bordeaux e os americanos os Cabernet Sauvignon.

Só temos que ter cuidado com uma coisinha... para que um vinho seja considerado VARIETAL, necessariamente não precisa ser composto de 100% da uva estampada no rótulo.

E isso ocorre por que? Porque dependendo da legislação de cada país, há uma brecha para que o enólogo possa colocar uma certa porcentagem de outra variedade de uva. Mas, por que o enólogo faria isso?

Antes de responder, é bom saber que no Brasil e Chile, por exemplo, para ser varietal tem que ter 75% de uma única uva (cepa). Em outros países, esse número pode chegar de 85% a 90%. É muito comum nas fichas técnicas e nos contra-rótulos colocar 100% de determinada uva para dizer que o vinho é composto exclusivamente por uma única casta. Um 100% varietal.

Respondendo a pergunta... O enólogo vai colocar outra variedade de uva para "consertar o vinho". Mas como assim? Vejamos um exemplo: pense em um vinho 100% Cabernet Sauvignon. Um vinho encorpado, estruturado e as vezes com taninos agressivos. Agora, se pudéssemos ter o mesmo vinho Cabernet Sauvignon sendo mais redondo, de bom corpo e estrutura e com taninos mais macios, não seria o ideal?

Já parou para pensar que o enólogo pode ter acrescentado 15% de Merlot (ou outra cepa) para "acalmar" a Cabernet? Às vezes a ideia é também fazer pequenos ajustes, como cor, álcool, acidez, estrutura, entre outros... Pois é, é assim que funciona!

Corte, Assemblagem ou Blend: 

Por definição: Mistura de dois ou mais tipos de uvas. Seria o mesmo que assemblagem ou blend. 

Assemblage é uma palavra francesa que diz respeito a junção de dois ou mais tipos de vinhos a fim de combina-los em um vinho especial. Já o blend vem do inglês. Todos são sinônimos. O que importa é que todas essas palavras são usadas para designar um vinho produzido a partir de diferentes variedades de uvas. 

Como curiosidade: Um vinho de corte pode ser elaborado a partir de até mesmo de 14 tipos de uvas. Como alguns maravilhosos Châteauneuf-du-Pape.

Se fossemos pensar em um corte clássico, eu citaria como melhor exemplo de vinho blend: o bordalês. Em um vinho Bordeaux, a Cabernet Sauvignon produz um vinho austero, tânico e muito colorido que é mesclado frequentemente com o de outras variedades, como geralmente a Cabernet Franc e a Merlot.

Agora vai uma perguntinha: Por que um enólogo decide fazer um vinho predominantemente de uma única uva, ou varietal? Saiba que essa é uma prática muito comum em todo o Novo Mundo, pois é uma estratégia de marketing! Se popularizou o "saber o que eu estou bebendo" ao invés do "local de onde eu estou bebendo". Lembrando que no Velho Mundo o conceito é: se você conhece meu vinho, conhece o meu terroir!

E por que um enólogo decide misturar diferentes uvas em um único vinho? Essa a gente já respondeu, mas é basicamente para melhorar o vinho, para aperfeiçoa-lo, para somar qualidades e multiplicar a complexidade de sabores e aromas.

Antes de encerrar, só mais um breve comentário... existe assemblagem de uma única uva! Mas como assim? Isso não pode né! Saiu do conceito da definição que aprendemos agora há pouco... E agora!? Então, a assemblagem de uma mesma casta pode ser feita com uvas de vinhedos diferentes. Pode ser feito também com vinhos prontos de safras diferentes, onde o enólogo mistura um barril (digamos de 2010) com um de 2011 e por ai vai. Tudo isso buscando um vinho ideal.

É comum se misturar vinhos de anos diferentes nos Champagnes NV com o objetivo de manter o padrão da Maison.

Na Argentina, por exemplo, temos o corte Malbec-Malbec que é um blend de Malbecs de vinhedos diferentes. Isso ocorre porque o produtor planta as uvas em vinhedos e altitudes diferentes para mitigar o risco do granizo destruir toda sua plantação. E claro, Malbec de altitudes diferentes possuem características diferentes que acabam por dar maior complexidade ao vinho.

AGORA EU QUERO SABER: Sabendo que o corte aprimora o vinho, é possível afirmar que vinhos de corte são melhores que varietais? A resposta seria: Não, pois existem vinhos maravilhosos tanto de corte quanto varietais. O que cabe ao caro enófilo é procurar degustar cada um deles e decidir o melhor para o seu paladar.

Saúde!