sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pessoal!!!
É com muita Alegria que convido a sommelier Ana Clara Carvalhopara a minha coluna quinzenal de PARTICIPAÇÃO ESPECIAL, onde a cada 15 dias alguém de outro blog, revista, site e etc... vai estar mostrando aos leitores, um pouco do seu trabalho. Desde já agradeço a participação dela. 

Confira o post e em breve vem nos encontraremos em mais uma PARTICIPAÇÃO ESPECIAL. Obrigado!

Se quiser participar, entre em contato conosco.

Ares dos Andes - Uma Visão da Sommelier Ana Clara Carvalho


Quando recebi o convite do Garrau e do Márcio Moulla para passar uma semana em Mendoza e conhecer os vinhos que sua nova importadora trará para o Brasil, não imaginei o quão enriquecedora seria essa nova imersão no mundo do vinho.

Nada melhor que viajar e beber vinhos maravilhosos observando a paisagem deslumbrante e poderosa da Cordilheira dos Andes. Quanta beleza! Confesso que me senti especial fazendo parte da primeira equipe de sommeliers escolhidos para conhecer os rótulos que ainda não chegaram por aqui e que a Ares dos Andes importará para o país a partir de 2015. Um luxo!

Amo Mendoza e acredito ser um dos lugares mais lindos e mágicos do mundo. Um oásis no meio do deserto. A cidade é cercada de vinhedos, oliveiras e árvores frutíferas. Esses cultivos só foram capazes pela engenhosidade hidráulica do povo Inca que cavou canais (chamados de acequias) aproveitando o curso natural da água do degelo que até hoje irriga a cidade e as plantações somente com a força da gravidade.

Descobri coisas que nem sequer havia imaginado, como por exemplo, que em Mendoza se produz vinhos em tanques de concreto enterrados em um subsolo de conchas marinhas (resquícios de um distante passado onde o deserto era o fundo do oceano) apenas com os gracejos da natureza, sem temperaturas controladas e nem tecnologia de ponta. O nome dessa bodega é Gen del Alma (achei lindo!) na região de Gualtallary, em Tupungato. Os enólogos são Andrea Mufatto e os irmãos Michelini. Eles também produzem outros vinhos em grandes ovos de concreto (com capacidade para 2000 litros para a bebida) com paredes tão grossas que a temperatura interna não sofre influência externa e depois de estagiar nos ovos vai direto para a garrafa sem nenhuma intervenção para estabilizar ou filtrar o líquido. E é claro também existem os tradicionais tanques de inox com temperatura controlada e as pequenas barricas de Carvalho.

Imagina só a diversidade de estilos. Os vinhos são deliciosos! Cheios de frescor e personalidade, um reflexo do seu lugar de origem, com caráter terroso, austero e totalmente natural.



Outras novidades que chegam ao Brasil e pelas quais me apaixonei:
A Bodega Viña 1924 De Angeles que produz só a uva Malbec de parreiras antigas, com mais de 80 anos de idade, do terroir de Vistalba em Luján de Cuyo. Eles impressionam pela integração do seu peso e sua elegância (vinhos encorpados com taninos sedosos). Sua altitude é de 980 metros acima do nível do mar e sua produção é baixa, uma videira produz uma garrafa de vinho. Utilizam os princípios da agricultura biodinâmica, técnicas que sempre me encantaram, quanto mais próximo do natural e da pureza, mais saudável. Notas florais que misturam rosas selvagens e um fundo de violetas se transformam em um verdadeiro deleite aos cinco sentidos. Outra vivência saborosa nesta vinícola foi colher cerejas frescas do pé, me senti como uma menina na fazenda do meu avô colhendo sarigueias. 

O enólogo é Juan Manuel González com a consulta de Eno-Rolland. A outra pessoa importante é Alberto Comarín, o gerente vinha do VIÑA 1924 Vineyard que cuida da dela há 40 anos. É uma vinícola muito pequena, o verdadeiro conceito de vinhos de garagem. Passeando por seus jardins pensava em como é especial beber um vinho de parreiras tão antigas e de pequena produção. É uma alegria uma boa parte de seus vinhos terem como destino o Brasil.

A Tres 14 é outro wine garage, cheio de glamour. Vem do sonho de um dos maiores enólogos da Argentina, Daniel Pi. É ele quem produz os vinhos da gigante Trapiche há mais de 10 anos e desde 2011 é Diretor de Enologia e Viticultura grupo Peñaflor. 

O projeto Tres 14, assim chamado para fazer uma alusão a seu sobrenome Pi (  = 3,14159...) é um empreendimento familiar, Daniel Pi escolheu a garagem de sua casa, em Chacras de Coria (Luján de Cuyo) para fazer seus dois vinhos Tres 14 e Imperfecto. Só três pessoas fazem parte de todo o processo produtivo: ele e seus dois filhos Daniela e Gonzalo. 

Foi Daniela Pi que nos recebeu. Uma bela menina, de sorriso tímido que nos encantou com toda sua sabedoria e paixão pelo que faz. Ela nos explicou que é tudo muito artesanal, até os rótulos são colados à mão.  Eles começaram a fazer a bebida de Baco apenas para presentear amigos e família, mas agradou tanto que expandiram sua produção. 

O vinho “Tres 14 tinto de garage” é de Vistaflores (Valle do Uco). É um Malbec muito agradável que consegue mostrar corpo e um caráter elegante com uma nota misteriosa que só ele tem. Seu outro vinho é o “Imperfecto” nascido em Galtallary (Tupungato), também Malbec com um pouquinho de Cabernet Franc que consegue invadir o vinho com toda sua força e estrutura, por isso Daniel resolveu chama-lo de imperfeito. Ele diz que nada é perfeito... Nem as pessoas, nem os vinhos! O fato é que sua criação “imperfeita” está entre os vinhos mais falados e pontuados de sua terra. Eu amei! Um estilo completamente selvagem, cheio de cor e estrutura.


A The Vines foi sem dúvida o empreendimento que me deixou de boca aberta.  Um lugar, como diz o proprietário, com atração magnética.  São 607 ha no pé da Cordilheira dos Andes com um luxuoso hotel resort e a possibilidade de comprar uma parcela de terra com “chalés”, que mais parecem casas moderníssimas. O comprador da terra tem a opção de vinificar seus vinhos com a consultoria do winemaker Santiago Achaval, um dos grandes enólogos argentinos. São 150 amantes do vinho que se tornaram produtores, alguns deles conseguiram notas bem altas pela Wine  Spectator e pela Wine Advocate. 

Achei o conceito magnífico! Você sonha com seu vinho e tem uma equipe de grandes profissionais que te ajuda a realizá-lo, isso tudo em um dos lugares mais bonitos que já vi na vida. É uma mistura de beleza natural e modernidade bem delineada. 

E é nesse pedaço do paraíso, em Tunuyán, que estão sendo produzidos os vinhos da Una Hectarea na Argentina. Um projeto do Márcio Moulla que já deu muito certo no Chile. São vinhos de autor com uma produção limitadíssima, como o nome já diz, um hectare para cada rótulo. Sempre fui fã deste produtor, conhecendo sua versão argentina então... Posso descrevê-lo como maravilhoso, cheio de fruta, especiarias, frescor, personalidade e com um buquê instigaste. 

Em outra Parcela do The Vines estão sendo feitos os vinhos da linha Garrau, o proprietário da Ares dos Andes, que vem de uma linhagem de vinicultores franceses. Ele apresentou seus vinhos com paixão no olhar, esse envolvimento do sentimento das pessoas e das famílias que trabalham com o vinho é sempre muito bonito de se ver. Seu Cabernet Franc é simplesmente encantador, pena que só foram produzidas 300 garrafas, sorte que elas vêm para o Brasil e eu já bebi de uma!!!

A Monteviejo é uma bodega inovadora que fica na área de Clos de Los Siete em Vista Flores, Tunuyán. Ela mistura vinho, arquitetura, arte, música e projetos sociais. É um barato! Caminhando por seus corredores e até por suas parreiras e jardins vemos obras de diversos artistas. Sua proprietária é Catherine Pere-Verge (dona das terras bordalesas do Chateau Le Gay e Chateau de La Violette).

O enólogo Marcelo Pelleriti é quem esta a frente do negócio. Muito experiente, trabalhou 14 anos com ela na França e hoje cuida de Moteviejo, vai para Bordeaux nas colheitas e ainda consegue tempo para tocar sua guitarra e ser um astro do rock na Argentina. Ele promove um grande show com artistas argentinos entre as parreiras do jardim, o Wine Rock Tour. Conhecemos muitos de seus rótulos, todos mostraram grande elegância. Entre eles o La Violeta não saiu da minha memória, uma mescla sintonizada de força e elegância.

A Teho & Zaha, almoçamos em meio ao seu belo parreiral em Paraje Altamira. Seus proprietários Alejandro  Sejanovich e Jeff Mausbach trabalharam por 17 anos com a vinícola Catena e depois decidiram vinificar seu próprio vinho. Obtido a partir de vinhas que datam de 1955 plantadas em pé franco. Eles optaram por vinhos mais naturais e seguem a agricultura orgânica. Os solos da região se diferenciam bastante, existem múltiplos terrois em um só lugar. Manchas de calcário, solos arenosos e xistosos se embaralham formando um verdadeiro quebra cabeça. Cada perfil de solo transmite diferentes aromas e sabores às frutas. A combinação destes perfis empresta excelente complexidade ao vinho final. Vinhos deliciosos  que mostram a pluralidade de estilos que o deserto argentino tem para oferecer.


Foi uma viagem maravilhosa, 29 sommeliers estudando e conhecendo mais sobre cada nuance e encanto dos vinhos de Mendoza. Cada vinícola tinha algo que me fascinava, coisas novas para aprender e a impressão de serem únicas. Acredito que o vinho é exatamente isso uma mescla de paixão, história, originalidade, exclusividade, sedução, magnetismo, e, é claro terroir. 

Por:
Ana Clara Carvalho - Sommelier

Sobre o Sommelier Ana Clara Carvalho:


Ana Clara Carvalho, formada como sommelière pela ABS de São Paulo e graduada em Turismo pela Anhembi Morumbi.