segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Pessoal!!!
Direto de PORTUGAL, nosso novo colaborador André Maia vai estar mostrando o que há de melhor no Alentejo, Dão, Douro. Confira essa excelente visita a vinícola Herdade do Esporão. IMPERDÍVEL ESSA MATÉRIA!

Ao Alentejo e além! - Herdade do Esporão



A Herdade do Esporão está localizada em Reguengos de Monsaraz, cidade situada no Alentejo, região do centro-sul de Portugal que, apesar de ter uma produção bastante recente, com pouco mais de 40 anos, é a maior exportadora de vinhos de Portugal e uma das maiores do mundo. A Herdade tem 700 hectares de vinhas e olivais, além de alguns pomares e hortas. As cerca de 40 castas produzem uma variada gama de brancos, rosés e tintos, além de um excelente espumante e um peculiar colheita tardia. Já as 4 variedades de azeitona dão origem a um dos mais famosos e prestigiados azeites no mercado internacional.


A Herdade conta com uma vastíssima programação de enoturismo, especialmente interessante no verão (junho a setembro), mas suficientemente variada para atrair novos fãs em qualquer época do ano. Aliás, o refinado restaurante da vinícola conta com cardápios distintos para cada estação (mas deixemos a criatividade do chef Pedro Pena Bastos para logo mais).

São duelos entre o Douro e o Alentejo, verticais, elaboração do próprio blend, refeições harmonizadas, até passeios de um dia inteiro entre as maravilhas naturais da linda propriedade. Você pode escolher a melhor programação para a sua viagem enviando um e-mail para a vinícola.

A famosa Torre, símbolo da vinícola, é datada de 1267.

Eu já havia estado lá em janeiro e não resisti a mais um genial e delicioso almoço harmonizado. O restaurante tem uma decoração sóbria e elegante, com uma linda vista para as vinhas e a Barragem da Caridade, e você poderá escolher por mesas no salão ou na varanda. A opção de refeição também está à escolha do cliente, havendo diferentes tipos de harmonização. Agendamos previamente um almoço com entrada, dois pratos e sobremesa.  Então vamos lá!

Área externa do restaurante.

Tudo começou com o delicioso pão da casa, uma manteiga especial e um conjunto de três azeites: Biológico, DOP Moura e Cordovil. Este leva o nome de sua variedade de azeitona, sendo um “monocasta”. É uma saborosa aula perceber as distintas intensidades e notas de cada um deles. Na sequência, vieram os criativos amuse-bouches do chef. A cada momento uma surpresa e uma diversão! Para acompanhar, o refrescante Vinha da Defesa Rosé 2015.

Um dos amuse-bouche. Não vá se distrair e comer as pedras!

Acho que já poderíamos dizer que de entrada as coisas iam muito bem, mas daí veio a entrada “oficial” e tudo ficou ainda melhor. A Cavala com abacate, erva do gelo e caldo fumado era linda (as fotos falam por si!) e fomos surpreendidos com um Esporão Reserva Branco 2012! O mercado português já comercializa o 2015, mas no restaurante do Esporão o chef tem acesso a variadas safras antigas para abusar da imaginação e elaborar harmonizações perfeitas. Além da harmonização impecável, o vinho tinha muita jovialidade e boa acidez, mas com ainda mais personalidade do que quando lançado.

Na taça o Reserva 2012 e ao fundo a sequência de azeites.

Mas já que estamos falando de boa evolução, vamos ao Private Selection Branco 2014. É, definitivamente, um dos meus brancos favoritos. Já havia provado as safras 2012 e 2013, e o 2014 não decepcionou nem um pouco. Seguiu o caráter complexo, untuoso e agradável de seus antecessores. É extremamente gastronômico, mas gosto tanto dele que para mim basta uma boa taça (risos...). Por ser mais robusto do que o Reserva, acompanhou um Salmonete com courgetes de verão, lagostim do rio e mexilhões. Uma das opções no cardápio de degustações da vinícola é justamente uma vertical desse grande branco. Nem Darwin explica uma evolução tão interessante!

O Salmonete e o Private Selection Branco. Nas linhas Reserva e Private Selection, a cada ano o rótulo é elaborado por um artista convidado. Arte dentro e fora da garrafa!

Finalmente, ao tinto da refeição, um elegante e superlativo Touriga Nacional 2011. Minha gente, que vinho! Ainda no Brasil, havia provado o 2008 em um duelo com outro belo Touriga Nacional, mas do Douro. Ah, o 2011 estava ainda melhor! Os taninos já estavam bem amaciados, apesar de saber que o vinho ainda ganhará com mais dois ou três anos em garrafa, e a fruta aparecia na medida certa de um vinho elegante, mas que expressa bem o seu quente terroir.

Como estávamos no último prato, resolvi brincar e pedir uma taça do Private Selection Tinto 2011 e do Quinta dos Murças Reserva 2010. São outros dois grandes vinhos da casa. O Private é o top da gama, superado apenas pelo mítico Torre do Esporão, que teve o seu último lançamento em 2007. É um desses supervinhos com uma deliciosa fruta e que adentra a boca como uma luva. Contudo, não sou o seu maior fã por uma mera questão de gosto. Já o Murças Reserva é um querido amigo. Acredito que 7 entre 10 pessoas prefeririam o Private Selection, que inclusive custa o dobro do Murças, mas o terroir do Douro fala alto e bonito nesse vinho. Sim, ele é duriense! A Esporão começou a produzir vinhos em sua Quinta dos Murças, no Douro, em 2008. Inclusive, acaba de lançar três novos vinhos daquela linda terra, mas isso é assunto de outra conversa.

O entrecote e o TN 2011 com os convidados, Private Selection tinto 2011 e Quinta dos Murças Reserva 2010. Obras de arte!

Voltando ao último prato, um Entrecote de Novilho com raíz de aipo torrado, mil folhas de batata e cebolas, falemos da harmonização. O vinho certo era mesmo o TN 2011. A elegância e leveza do prato pediam aquele vinho, suplicavam por aquele vinho! Os outros dois, o Private e o Murças, apareciam demais e escondiam o Entrecote. Sábio Pedro Pena Bastos.

Então, à sobremesa! Mas, antes dela chegar, tive de encontrar outro velho amigo. Não que a sobremesa tenha demorado. O timing do restaurante é perfeito. Acontece que tenho devoção pela Alicante Bouschet alentejana, e tudo começou com um AB 2007 da Herdade do Esporão há dois anos. Então, tive de arrematar com um AB 2012. O vinho harmonizou com a nossa alegria após aquele incrível e leve banquete. Nas palavras de meu avô, um vinho de caráter, de gente forte. Um vinho “bão”!

Alicante Bouschet 2012

Agora sim, falemos da sobremesa. Algo para o verão. Era leve e fresca. Pêssego, tarte de lavanda e erva luisa. A harmonização era com um late harvest 2015. Bem jovenzinho. Sou dos doces mais carregados, gosto da pastelaria portuguesa. Sou dos vinhos de sobremesa mais antigos, com boa idade. Confesso que não tinha muitas expectativas. Pois bem, que grand finale! A leveza da sobremesa era abraçada pela boa acidez e leveza do vinho. Era uma dança. Genial Pedro Pena Bastos!

A Tarte e o Esporão Late Harvest 2015. Que loucura!

Novamente, essa foi uma das grandes experiências enogastronômicas que já tive. Os pratos, o atendimento, a vista, e os vinhos... Ah, os vinhos! Eles enaltecem a competência e criatividade de David Baverstock e sua equipe.  E o melhor é que não acabou aqui. Na sequência, fizemos uma visita à estrutura da vinícola e ainda provei o vinho da Talha e os portos da Quinta dos Murças, tudo com um inacreditável pôr-do-sol. Mas é história boa o suficiente para uma parte 2. No próximo texto eu conto com calma.

Até o cafezinho é apresentado com capricho!

A Herdade do Esporão fica a duas horas de carro de Lisboa e a estrada é excelente. Para os que quiserem algo menos cansativo, recomendo que se hospedem em Évora, a capital do Alentejo. É uma cidade muito bacana e o Esporão fica a 40 minutos de carro. Agende previamente e seja feliz, muito feliz!

E o mestre David Baverstock ainda passou para um abraço. Meu avô, David, eu e o velho amigo Daniel Alano.

OS VINHOS DEGUSTADOS: 

Vinha da Defesa Rosé 2015
Idade das vinhas: 10 anos
Castas: Aragonez e Syrah
Engarrafamento: fevereiro de 2016
Álcool: 13%

Esporão Reserva Branco 2012 (rótulo por Filipe Oliveira Baptista)
Idade das vinhas: 17 anos
Castas: Antão Vaz, Arinto, Semillon e Roupeiro
Estágio: Em cubas de inox e em barricas novas de carvalho francês e americano durante 6 meses.
Engarrafamento: março de 2013
Álcool: 14%

Esporão Private Selection Branco 2014 (rótulo por João Queiroz)
Idade das vinhas: 18 anos
Castas: Semillon
Estágio: A fermentação acontece em barricas novas de 550 litros, de carvalho francês, numa cave com temperatura controlada a 18.ºC. O estágio foi feito sobre a borras de fermentação acompanhado por batonnage, para aumentar a integração entre a madeira e o vinho aumentando a cremosidade e profundidade do vinho.
Engarrafamento: junho de 2015
Álcool: 14,5%

Esporão Touriga Nacional 2011
Idade das vinhas: 26 anos
Castas: Touriga Nacional
Estágio: 12 meses em barricas de carvalho francês, seguidos de mais 18 meses em garrafa antes de ir para o mercado.
Engarrafamento: maio de 2013
Álcool: 14,5%

Esporão Private Selection Tinto 2011 (rótulo por Alberto Carneiro)
Idade das vinhas: AB (1996), Aragonez (1980) e Syrah (1998)
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez e Syrah
Estágio: 30%  em barricas novas e 70% em barricas usadas (1 ano), de 225 l de carvalho francês (Taransaud; Saury; Boutes). Após 18 meses de estágio, durante o qual apenas foi feita uma trasfega imediatamente após a maloláctica, constituído o lote final, que foi engarrafado no dia 7 de Agosto de 2013, somente com uma ligeira filtração e sem qualquer tipo de colagem.
Engarrafamento: agosto de 2013
Álcool: 14,5%

Quinta dos Murças Reserva 2010
Idade das vinhas: 40 anos
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão, Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz
Estágio: barricas de carvalho francês e americano por 12 meses.
Engarrafamento: junho de 2012
Álcool: 14%

Esporão Alicante Bouschet 2012
Idade das vinhas: 13 anos
Castas: Alicante Bouschet
Estágio: Estagiou durante 12 meses em barricas 500L de carvalho Francês e Balseiro de 5000L, seguidos de mais 12 meses em garrafa antes de ir para o mercado.
Engarrafamento: maio de 2014
Álcool: 15,5%

Esporão Late Harvest 2015
Idade das vinhas: 19 anos
Castas: Semillon
Açúcar: 85g/l
Engarrafamento: março de 2016
Álcool: 14% 

Texto produzido por André Maia;


Nosso correspondente em Portugal, André Maia é mestrando em Direito pela Universidade de Coimbra com bacharelado em Direito e Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Tem interesse em regulações de mercados, propriedade intelectual e regimes de bens com denominação de origem controlada. É apaixonado por vinhos há alguns anos, quando foi surpreendido com um  vin de pays em um término de namoro. Mesmo numa caneca de plástico, desceu bem. Alguns meses depois, uma amiga o presenteou com um Moleskine. Resolveu dar ao famoso caderninho um honroso destino. Desde então, coleciona todos os rótulos interessantes que já bebeu.