segunda-feira, 20 de julho de 2015

Pessoal!!!
É com muita Alegria que convido meu amigo Adroaldo Quintela para a minha coluna de PARTICIPAÇÃO ESPECIAL, onde alguém de outro blog, revista, site e etc... vai estar mostrando aos leitores, um pouco do seu trabalho. Desde já agradeço a participação dele.

Participação Especial Viagem Enológica em Portugal: Sonho ou Realidade?



Saímos de Brasília nas asas da TAP com destino a Faro, no Algarve, fazendo rápida escala em Lisboa. Ficamos dois dias naquele balneário do Atlântico Norte e seguimos de micro-ônibus até Évora no Alentejo, onde começaríamos nossas experiências sensoriais e gustativas com o vinho e a culinária lusitana.

Permanecemos três dias no Alentejo visitando vinícolas e vários sítios históricos como Arraiolos, Monsaraz, Beja, Viçosa, e Elvas, dentre outros. Os vinhos do cotidiano foram Monte Alentejano e Paulo Laureano Clássico. Conhecemos diversas herdades (quintas) e nos deslumbramos com as vastíssimas plantações de uva, de sobreiro (árvore que produz cortiça) e de oliveiras, sem falar na criação de porcos pretos que engordam comendo azeitonas e belotas, e nos brindam com excelentes presuntos e assados. A estadia na região foi suficiente para percebemos a influência romana e moura na arquitetura e cultura alentejana. Até mesmo, nos acostumamos com a mistura exótica de carne de porco e frutos do mar, ícones da culinária do Alentejo.

Seguimos em direção ao Norte passando pelo Ribatejo e parando na Península de Setúbal. Nas terras do Rio Sado são produzidos bons vinhos, com destaques para Bacalhoa Vinhos. Em nossa primeira parada fomos apresentados ao So Sirah 2004, escoltado por delicioso risoto de cordeiro preparado pelo chefe italiano Renzo Viggiano. Manjar dos deuses com direito a ajoelhar e agradecer a Baco ou Dionísio pelo potente vinho que nos ofereceram. Rumamos para a Bairrada com vontade latente de retornar a Setúbal para conhecer as serras do Azeitão e da Arrábida. Nessa última, pretendemos curtir um banho de mar e saborear assados de peixe nas churrascarias portuguesas.

Chegando à Bairrada não podíamos abrir mão de experimentar o leitão regional assado com folhas de parreira, visitar algumas vinícolas e descobrir os encantos e magias da Floresta Nacional do Buçaco. No Microclima da Bairrada destaca-se o trabalho inovador do mestre vitivinicultor Luiz Pato, um dos maiores enólogos de Portugal, especialista em domar a complexa, dura e nervosa uva Baga. Infelizmente, não pudemos conhecê-lo; estava divulgando seus excelentes vinhos no Brasil. Alternativamente, fomos bem recebidos na casa de Saima, onde degustamos um belo exemplar de tinto de uva Baga - Casa de Saima Reserva de 2003 - sem acompanhamentos, pois já não sobrava espaço no estômago, após o inesquecível almoço na Bairrada harmonizado com espumantes e vinhos locais.

Pernoitamos na cidade de Coimbra, que abriga uma das mais antigas faculdades do mundo, a famosa Escola de Direito, muito conhecida de pós-graduandos brasileiros. A noite de lua cheia iluminava e coloria as suaves correntezas do Rio Mondego, que soprava uma deliciosa e aconchegante brisa. Jantamos, degustamos, conversamos, namoramos, cantamos e dançamos em belíssimo restaurante situado na margem esquerda do Mondego, bem pertinho do nosso hotel. O dia seguinte foi dedicado a passear no casco histórico de Coimbra saboreando as suas ruelas, labirintos, igrejas, faculdades, monumentos e ladeiras, com paradas técnicas para beber, comer, descansar, tirar fotos e trocar impressões e percepções da viagem.

Resolvemos seguir em frente e passar uns dias na invicta cidade do Porto. Caminhamos pela cidade para conhecer o Museu Guerra Junqueira, o Edifício da Bolsa de Valores, a Torre dos Clérigos, o antigo Palácio Episcopal e a Igreja de São Francisco. Estacionamos nos Instituto do Vinho do Porto para degustar os exuberantes líquidos locais. Descemos até o cais da Ribeira, caminhamos pela Esplanada, atravessamos a ponte do Douro e fomos à Vila de Nova Gaia, hoje uma grande cidade nos padrões portugueses. Visitamos alguns armazéns onde são envelhecidos e comercializados os vinhos mais emblemáticos de Portugal: licorosos e fortificados Vinhos do Porto.

Aproveitamos o resto do dia para fazer um tour de Barco Rabelo pelo Rio Douro e almoçamos frutos do mar em Matosinhos, maior cidade portuária de Portugal a quinze quilômetros do Porto. Á noite, comemos sardinhas e tripas fritas nas tascas situadas na Ribeira do Douro acompanhadas de espumante bruto da Távora-Varosa e de Vinhos Verdes produzidos na fronteira de Portugal com a Galícia. Em seguida fomos dançar um rock para liberar os taninos e os polifenóis.

Retomamos a viagem em direção á Peso da Régua, no Baixo Douro, ponto de partida para excursões ao longo desse magnífico patrimônio da humanidade, por meio de vapor, de ônibus e de trem (comboio no idioma português de Portugal). Subindo de comboio no rumo do Norte ficamos extasiados com a linda paisagem. No alto mirávamos as plantações de uva no velho sistema regional de socalcos, desafiando e dominando o pedregoso solo xistoso. Olhando para baixo enxergávamos as curvas sinuosas do Douro descendo vigorosamente em direção ao mar. Fomos calorosamente recebidos na belíssima Quintas do Crasto, onde nos serviram deliciosas garrafas de Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2006, escoltados por belo e perfumado risoto de bacalhau à moda dos Bodani. Um casamento mais do que perfeito: simplesmente extraordinário!

Embevecidos queríamos permanecer mais dias no Douro. Porém, tínhamos o compromisso de retornar à Brasília para enfrentar a chatice da rotina cotidiana. Estavam acabando nossos inesquecíveis momentos lúdicos de lazer e de prazer. Voltamos à Península de Setúbal para visitar o monumental Palácio da Bacalhoa, onde fomos abençoados com um vinho do mesmo nome, da ótima safra de 2004. Já era horário do jantar e nos serviram um filé com ervas finas, gorgonzola e funghi, servido em cama de purê de mandioquinha e ramos de alecrim, uma iguaria preparada pelo patrício Quintela. Hummm! Que delícia! No dia seguinte fomos à praia e fizemos um recorrido pela linda Serra da Arrábida com direito a deliciosos frutos do mar grelhados e ótimas garrafas de Chardonnay e Arinto regionais.

Enfim chegamos para curta temporada em Lisboa nova e antiga. O espaço é insuficiente para falar de todos os lugares que conhecemos e dos feitos e malfeitos do Marquês de Pombal. Entretanto, é impossível deixar de mencionar o inusitado fado vadio do Alfama e a movida noturna do Bairro Alto e do Chiado. Saudosos e com desejo frenético de ficar mais tempo conhecendo e nos reconhecendo em Lisboa retornamos a Brasília, pensando em organizar a próxima viagem em companhia dos amigos do vinho e da vida.

Acordamos. Tudo não passou de um lindo sonho, pois hoje estamos sendo bem recebidos no Solar dos Bodani para mais uma degustação da confraria Amicus Vinus. Como vinho é sonho, paixão, amor, desejo, geografia, história, cultura, arte, música, literatura, poesia e inspiração que tal degustar dois rubais do famoso poeta luso, o incomparável Fernando Pessoa.

Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta
Ora o vinho bebemos porque é festa
Ora o vinho bebemos porque há dor
Mas de um e de outro vinho nada nos resta (1926)
Vivemos nas encostas do abandono
Sem verdade, sem dúvida nem dono
Boa é a vida, mas melhor é o vinho
O amor é bom, mas melhor é o sono (1931)


Por:
Adroaldo Quintela 

Sobre Adroaldo Quintela:


Sobre Adroaldo Quintela - Economista baiano, radicado em Brasília desde 1985. Amante dos vinhos, da poesia, da literatura e das artes plásticas , possui curso básico e avançado pela ABS-DF e vários cursos rápidos no novo e velho mundo dos vinhos. Já organizou diversos eventos de vinho, entre eles o Vinho e Artes Plásticas, em novembro de 2013. Nos últimos cinco anos, tem se dedicado a estudar e organizar degustações de vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos. Participa há dez anos da Confraria Amicus Vinum.